Nota (sem) culpa
Ela estava na cama, mal acordada, próprio de quem estava mal dormida... Ainda tinha no corpo o toque do outro, o suor do outro, na boca sentia o gosto do outro. O quarto ainda cheirava ao outro e ela ainda tremia do êxtase da paixão. O outro partira ao amanhecer. Tinham-se despedido, brevemente, entre beijos que se não cessassem entreviam o apetite para mais luxúria. Não podia ser. Ambos tinham outros compromissos e abandonaram-se. O outro saiu. Ela ficou e decidiu abdicar dos compromissos daquele dia e ficar ali a divagar. Relembrar cada momento da noite arrepiante e apaixonante. Queria guardar tanto as carícias como as fúrias. O telefone tocou. "Bom dia, amor!" Ela olhou para a aliança, deixou correr uma lágrima. Disse: "Desculpa...". E desligou. Ela estava decidida a tirar aquele dia para sonhar.