Memória de uma lição

Nada cai do céu (via de regra). E não faz mal. Gosto de me esforçar.
Gostei do meu primeiro trabalho de Verão. Tinha 13 anos e foi num arquivo. A tarefa era empacotar os livros e identificar as caixas para a mudança para a Torre do Tombo. Foram 3 semanas árduas. Conheci gente nova. Diverti-me mais do que devia a ler aqueles livros. Ganhei uns trocados que me pareceram uma fortuna. Comprei umas calças de marca e pouco mais. Valeu a pena.
Os meus pais nunca teriam possibilidade de as comprar. Apesar de achar um desperdício de dinheiro, a minha mãe não se opôs a que gastasse quase tudo quanto tinha ganho.
Quando saímos da loja, perguntou-me se estava feliz. E eu respondi que sim.
- Ainda bem. Agora imagina que eu e o pai fazíamos o mesmo... Se gastassemos o ordenado assim todo de uma vez como é que vivíamos durante o mês? Comida, roupa e despesas...
Não respondi. Quis entrar na loja para devolver as calças.
A minha mãe não deixou. Disse que eu tinha ganho o dinheiro e tinha o direito de o gastar como quisesse e que ainda não tinha responsabilidades. Mas que era importante ter a noção das coisas.
Desde esse Verão sempre trabalhei nas férias. Continuei a gastar o dinheiro  coisas que eu queria e os meus pais não podiam comprar.
Quando fiz 16 só pensava nos 18, em tirar a carta e comprar carro. A partir desse Verão comecei a poupar. Os meus pais pagaram a carta. E em 3 anos eu tinha conseguido juntar dinheiro para um carrinho, velhote, mas o meu primeiro carro!
Nunca me esqueci do que a minha mãe me disse em plena rua Augusta.
Há lições que ficam para a vida.

Comentários

Isa Maria disse…
Estou como tu. O primeiro dinheiro ganhei-o nos programas de verão, a trabalhar na biblioteca da Escola lá do sítio. Tinha 16 anos e ganhei 15 contos, 5 por cada mês de trabalho. Amei o que fiz e o dinheiro foi para comprar umas calças que a minha mãe não me daria nunca. Gostei da sua história.

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