Versão resumida do diário da (minha) loucura

Tudo começou no primeiro dia em que comecei a trabalhar, lembro-me de ti logo desde o começo. Lembro-me vagamente desse sorriso que esteve sempre perto de mim.
Tentei negar... mas já me sentia atraída por ti e sabia-o. Soube-o na tarde em que estivemos perto e disseste que não gostavas de "mulheres-confusão". Soube-o na noite em que preferi manter a distância para não me denunciar. Soube-o no pequeno-almoço em que na sala cheia te sentaste na minha mesa e sorriste. E não fosse este o diário da minha loucura e seria o diário do teu sorriso. Sentaste-te na varanda a qual nem cheguei, sei agora, para te evitar. Para evitar o teu olhar. São memórias de ti que guardei desse fim-de-semana cheio de gente e confusão.
E desde então que fujo. Talvez não. Sentia sem saber. Começou por pequenas coisas. Talvez por isso me foi difícil entender. Sempre os sentimentos me vieram com força de avalanche e arrasaram tudo ao chegar.
Tentei aprender a fingir… tentei em vão controlar e apagar o que sentia por ti. Tentei esquecer esse teu sorriso. Tentei negar que o teu olhar me fazia sorrir. Tentei não ouvir os meus pensamentos. Tentei que não me fizesses sentido. Tentei pensar que para ti seria apenas só mais uma. Esforcei-me para te esquecer. Em vão. O teu sorriso continuava lá. Continuava aqui.
Recusei escrever sobre o que realmente me apetecia escrever. Ignorei todos os pequenos sinais. "In vino veritas" e em inglês assustei-me com os meus pensamentos. E, sem o prever, invadiste os meus sonhos e eu deixei de ser senhora dos meus pensamentos.
Como pode ser tão verdade que o maior cego é o que não quer ver? Numa brincadeira em "transe musical", vi uma casa e um intruso que se aproximava de mansinho. Entrou sem ser convidado, gerou confusão. As imagens abandonaram-me no momento em que te visualizei como esse estranho. Quando me perguntaram se fazia ideia porque tinha visto tal cena, uma vez que imaginar uma casa era a representação do meu mundo e o resto só eu podia saber, menti "não faço ideia". Mas fiz. Se fiz. Ateei um fogo que me andava a consumir e eu estava a enlouquecer.
Os olhares, os sorrisos, o "não fujas de mim", o teu cheiro. Eu não quero fugir. Há parte de mim que não te resiste. Não podia mais negar tudo o que me estava a acontecer. E comecei a recriminar-me. Porque eu sempre sei que acabo a sofrer. Porque eu sei que devia ter percebido e devia ter evitado. Devia ter-me impedido de sentir e não impedi. Não o podia prever. (Será que não?) Como poderia eu adivinhar que o que eu supus ser brincadeira, me podia apanhar desprevenida? Não podia, mas devia. Sinto que sim.
Admito-me que és o meu desassossego. Confesso-me. E fui salva de mim pela presença de outros ou aquele beijo na testa teria sido seguramente apenas o primeiro. E como posso não me reconhecer? Oscilo entre a loucura e a insanidade. Porque a razão já me abandonou quando te tentei expulsar dos meus pensamentos e não consegui.
Uma noite repleta de sonhos e devaneios. A resolução pela manhã. Cheguei decidida a parar, a travar-me, dois passos e a decisão desvanece-se. O teu sorriso. E depois poderia ser tão mais fácil. Mas o que tu dizes... O reflexo do que sinto. O espelho do que vivo. E a vontade de estar mais perto sobrepõe-se a tudo e quase que a ouço gritar na minha cabeça para não te deixar fugir. "Se ficarmos quietos, achas que passa?" Oh se pudesse ser assim tão fácil! Sei-o agora. E já só falta amarrar os braços e amordaçar-me para não fazer e dizer mesmo tudo aquilo que me apetece e que travo de cada vez que mesmo sem me tocares te sinto perto, perto ao ponto de sentir o calor do teu corpo. Perto ao ponto de sentir o meu coração bater descompassado. Respiro. Fundo. Porquê atear um fogo senão for para o deixar arder?

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